sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Deus ou o "Eu" no centro?

De um ponto de vista prático, os defensores do livre-arbítrio estão interessados em não deixar espaço para as desculpas daqueles que impu-tão seus próprios pecados à fraqueza da natureza humana. Assim, a diferença entre Predestinação e livre-arbítrio é que o primeiro não estar disposto a abandonar a absoluta necessidade, da graça, mesmo enquanto defende a liberdade, enquanto que o último acredita que a doutrina da graça e predestinação é uma ameaça para responsabilidade e liberdade humanas. Para os defensores do livre-arbítrio, a predestinação à qual Paulo se refere não e um decreto soberano de Deus em virtude do qual pessoas são salvas ou condenadas, mas é, ao invés, o pré-conhecimento de Deus do que serão as futuras decisões humanas. "Predestinar é o mesmo que pré-conhecer". A "queda" (pecado de Adão) que afetou de tal forma a totalidade da descendência de Adão que não é mais possível falar de uma total liberdade da vontade. Antes da queda, Adão usufruía de vários dons, dentre os quais aquele livre-arbítrio, que, dava a ele o poder de não pecar, bem como o poder para pecar. Adão não tinha o dom completo da perseverança, isto é, o dom de ser incapaz de pecar, mas ele tinha o dom de ser capaz de perseverar no bem, o poder para não pecar. Depois da queda, ele ainda é livre, mas perdeu o dom da graça que o capacitava a não pecar; agora o homem é livre,pois, somente para pecar. E por causa da herança de Adão, todos os seres humanos estão por natureza na mesma situação. Em resumo, a natureza humana caída é livre somente para pecar. Assim nós sempre usufruímos de uma vontade livre; mas esta vontade não é sempre boa. A opção de não pecar não existe. Isto é o que significa dizer que a natureza humana caída tem liberdade para pecar, mas não tem liberdade para não pecar. Se tudo o que nós podemos fazer é pecaminoso, como poderemos dar o passo que nos levará do nosso estado presente para aquele de redimidos? A resposta é inescapável: por nós mesmos, não somos capazes de dar esse passo. Este é o ponto central da polêmica entre Graça-Predestinação contra livre-arbítrio. Na verdade, a doutrina sobre a predestinação se origina não apenas de uma necessidade lógica a partir da doutrina da graça, mas também e principalmente da experiência da conversão humana e da exegese bíblica. Assim, a ordem lógica seguida nessa exposição não deve dar a impressão de que apenas são pensamentos abstratos que estar mais interessado em rigor lógico do que na verdade existencial.
É importante dizer que a graça não nos força a tomar uma decisão contra nossa própria vontade. Ao contrário, Deus, por meio da graça, ativa a vontade, fortalece e a estimula, de tal modo que a própria vontade, sem nenhuma coerção, deseja o bem. Nós não salvamos a nós mesmos, nem somos salvos contra vontade. Nem a graça de Deus sozinha, nem o homem por si só, mas a graça de Deus com ele. A graça move a vontade, mas somente por meio de uma "violência suave" que age de tal maneira que a vontade concorda com ela. Isto imediatamente levanta a questão da predestinação. Se a salvação é possível apenas por meio da graça, e se essa graça não depende de nenhum mérito da parte daquele que a recebe, segue-se que é Deus, por meio de sua soberana liberdade e ato, quem decide quem deve receber esse dom imerecido. A doutrina da predestinação nasce não de considerações especulativas a respeito da onisciência ou onipotências divinas, mas, ao invés, a partir de considerações soteriológicas e existenciais, numa tentativa de afirmar que a salvação humana é o resultado imerecido do amor de Deus. Assim, a doutrina da predestinação não é uma tentativa de conciliar a onisciência divina com a liberdade humana, mas uma tentativa de testemunhar a absoluta primazia de Deus na salvação humana - "Deus no centro".

Nenhum comentário:

Postar um comentário